A mudança começa de dentro

Há cinco anos, eu comecei a usar o transporte público. Antes disso, ia pra escola de bicicleta e tudo que fazia, eu fazia no meu bairro, em Bangu. Até que passei pra um colégio em São Cristóvão e precisava pegar ônibus e trem. O colégio acabou, eu consegui uma bolsa na PUC e hoje pego trem-ônibus-metrô-metrô na superfície. Tinham (e ainda tem, aliás) dias que tudo era tão péssimo - o ônibus sem ar condicionado, o trem lotado - que eu preferia ficar em casa só pra não ter que enfrentar a saga do transporte público.

Apesar disso, eu não fazia nada pra mudar. Minhas reclamações se resumiam em alguns xingamentos no twitter. É triste admitir, mas as eleições chegavam e nem me importava muito em quem votar. Aqui em casa, ninguém nunca foi politizado e eu me acostumei a não ligar pra política também.

Assim, simples.

Eu acreditava num conto de fadas que nos contam há muito tempo e acho que vocês também conhecem: aquele que diz que, apesar de tudo, o carioca continua sorrindo, continua bem-humorado. Eu me apegava à isso. Transporte tá ruim? Eu pensava "amanhã vai ser outro dia". Eu simplesmente não tinha paciência pra tentar entender como funciona a política, não tinha paciência pra entender os meus direitos. Eu era o que, no senso-comum, você poderia chamar de uma pessoa alienada. Sempre tive opinião sobre quase tudo, menos política. Eu estava na caverna de Platão.

Então, aconteceram manifestações (aliás, ainda estão acontecendo!). Eu perdi a conta de quantos vídeos, fotos, relatos, eu vi e li sobre o que estava acontecendo em São Paulo, Rio e no Brasil. O que aconteceu comigo pode ser descrito como um sintoma de alguma doença: eu senti meu peito apertar, comecei a sentir que algo maior crescia dentro de mim. Não sabia o que era, mas sabia que precisava estar com todas aquelas pessoas que gritavam nas ruas por direitos que também eram os meus.

Na quinta-feira, gripada e sem muitas forças, fui às manifestações. Eu, que nunca gostei de comemorar e de ser efusiva porque nunca soube bem como fazer isso, fiquei quieta. Só andei e andei e andei pensando e tentando entender tudo que está acontecendo.

Para isso, eu tô lendo, tô me informando, tô discutindo com outras pessoas que também estão ligadas nisso. Apesar de parecer que as manifestações viraram uma festa, acho teve isso de bom (pelo menos para mim): me fez criar uma consciência política. E só a força de levar as pessoas pra às ruas - mesmo que fosse pra aparecer, pra beber cerveja ou só pra dizer "eu estive lá" - já foi importante. Qual outro evento que você conhece que leva tanta gente assim às ruas? Só bloco de Carnaval.

Se, cada pessoa que estava lá começar a se preocupar, a se importar, a tentar mudar as coisas - mesmo que seja em casa, na faculdade, no trabalho - as coisas vão melhorar. Aliás, já estão melhorando: o preço da passagem caiu, a PEC-37 foi arquivada, políticos estão com medo, a mídia, antes contrária às manifestações, ficou à favor dos protestos (dos pacíficos, pelo menos, é o que eles dizem).

Esse foi o saldo e a conclusão pra mim: que a mudança começa de dentro. Dentro de cada um que sofre, que é diariamente "vandalizado" por toda merda que acontece aqui. Se todo mundo perceber isso, as coisas mudam.

um beijo,
Ju

3 comentários

  1. Minha família também nunca foi ligada em política, mas quando vim morar sozinha no Rio e enfrentar todas as sagas - transporte público, filas quilométricas, violência, o preço das coisas, homens tarados e mau educados na rua... Comecei a me importar muito.
    E sou dessas chatas que ficam falando de política no facebook, muito antes mesmo de manifestações, etc. E cansei de ver gente reclamando disso, falando que facebook é lugar para diversão, blá blá blá. As manifestações tiveram seu saldo positivo e negativo, mas dentre os positivos, fico muito feliz de que tem muita gente percebendo que só depende da gente pro mundo ser melhor. Quando a gente muda, o mundo muda. Fico muito contente de saber que você e outras pessoas"desabrocharam" para as questões sociais da nossa cidade. Podemos ter, enfim, uma cidade maravilhosa.

    ResponderExcluir
  2. Você resumiu muito bem. As mudanças acontecem aos poucos, mas já vemos alguns resultados. Até falei sobre essa mudança interna lá no blog também porque a gente tem a tendência de culpar os outros e não vê que tudo começa dentro de nós.

    http://www.coisasquequerolhefalar.com

    ResponderExcluir
  3. Muito foda o que você escreveu. Vi nascerem os hipster de protesto, as pessoas achavam que podiam julgar quem era merecedor de estar lá. Mas enfim, a parte linda disso, que como cresceu em vc, cresceu em mim e tenho certeza que em muitas outras pessoas que já tinham perdido as esperanças. Só por isso, já valeu tudo.

    ResponderExcluir
Leio todos os comentários e respondo quase todos. :) hehe Se for urgente, melhor mandar um email para: jusacramento@temnomeuquintal.com